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terça-feira, 16 de março de 2010

Mãos que oram










A nossa casa era bem modesta.
Quando passávamos pelo quarto central
As tábuas do piso balançavam.
E à noite eu sentia medo, muito medo!

A tia Linda, mesmo cansada,
ficava acordada esperando que eu dormisse.
Montava guarda com asas de anjo.
Quando eu soube dos arcanjos, fiquei imaginando:
Ela é um deles!

Supera todas as criaturas que conhecemos.
Deu-nos a sua juventude, toda a sua mocidade.
Hoje comemora 92 anos de idade e s
empre trabalhando!
Mesmo com dores ela vai se arrastando.
Artroses, câimbras que a impedem de dormir.
Percebo que a incomoda o olho lacrimoso, cansado.

Doem os seus pés!
E as mãos deformadas
a impedem de realizar trabalhos manuais
Mais delicados.

Estou aqui, agora, diante de uma tela.
E escrevo, falo DELA, com as mãos, quase, aveludadas.
E penso nas mãos que realizaram nossos sonhos,hoje disformes.
Santa é o seu nome, Tia, Imaculada!


E a sua, a nossa história, remete-me a uma outra história.
A de ALBRECHT DÜRER.
No século XV, em uma pequena aldeia , perto de Nüremberg, vivia uma família com vários filhos.
Para ter o que comer para todos, o pai trabalhava cerca de 18 horas diárias nas minas de carvão.
Dois de seus filhos tinham um sonho: queriam dedicar-se à pintura, mas sabiam que seu pai jamais poderia enviar os dois para estudar na Academia.
Depois de muita conversa, os dois irmãos chegaram a um acordo: lançariam uma moeda para tirar à sorte, e o perdedor trabalharia nas minas para pagar os estudos ao que ganhasse.

Ao terminar seus estudos, o ganhador pagaria então, com a venda de suas obras, os estudos ao que ficara em casa.
Assim, os dois irmãos poderiam ser artistas.
Lançaram a moeda num domingo ao sair da Igreja. Um deles, chamado Albrecht, ganhou, e foi estudar pintura em Nüremberg.
Então o outro irmão, Albert, começou o perigoso trabalho nas minas, onde permaneceu pelos próximos quatro anos para pagar os estudos de seu irmão, que desde o primeiro momento tornou-se, logo, um sucesso na Academia.
As gravuras de Albrecht, seus entalhes e seus óleos chegaram a ser muito melhores que os de muitos de seus professores. Quando se formou, já havia começado a ganhar consideráveis somas com as vendas de sua arte.
Quando o jovem artista regressou à sua aldeia,a família Dürer se reuniu para uma ceia festiva em sua homenagem.
Ao finalizar a memorável festa, Albrecht se pôs de pé em seu lugar de honra à mesa, e propôs um brinde à seu irmão querido, que tanto havia se sacrificado, trabalhando nas minas para que o seu sonho de estudar se tornasse uma realidade. E disse:
“Agora, meu irmão, chegou a tua vez. Agora podes ir a Nüremberg e perseguir teus sonhos, que eu me encarregarei de todos os teus gastos”.
Todos os olhos se voltaram, cheios de expectativa, para o lugar da mesa que ocupava seu irmão. Mas este, com o rosto molhado de lágrimas, se pôs de pé e disse suavemente:
“Não, irmão, não posso ir a Nüremberg. É muito tarde para mim. Estes quatro anos de trabalho nas minas destruíram minhas mãos. Cada osso de meus dedos se quebrou pelo menos uma vez, e a artrite em minha mão direita tem avançado tanto que me custou trabalho levantar o copo para o teu brinde.
Não poderia trabalhar com delicadas linhas ,com o compasso ou com o pergaminho, e não poderia manejar a pena nem o pincel. Não, irmão, para mim já é tarde. Mas estou feliz que minhas mãos disformes tenham servido para que as tuas agora tenham cumprido seu sonho”.


Deus a abençõe Tia, à Senhora e à Tia Anália.

Foi uma vida toda de trabalho, não apenas quatro anos.
Não houve tempo para vocês.
Não há mais tempo!
Suas mãos, hoje disformes, realizaram o sonho de meus pais
e os nossos sonhos.

Nossa eterna gratidão e para sempre o nosso amor.

4 comentários:

Anônimo disse...

QUERIDA MANA FÁTIMA ("MANAFÁ")

SÃO MINHAS AS SUAS PALAVRAS!APESAR DE QUE NÃO HÁ PALAVRAS PARA DESCREVER O VALOR DESSAS "SANTAS MULHERES"! OBRIGADO, POR MIM E POR TODA A MINHA TURMA, QUE HOJE, COM CERTEZA , RECEBE OS BENEFÍCIOS GERADOS POR TANTA RENÚNCIA E TANTOS SACRIFÍCIOS!
TONINHO ( "MANOTÓ")

Anônimo disse...

Meu Deus.... que coisa mais linda!
Tia, que bom que a sua sensibilidade permitiu que surgisse esse blog, porque aqui reencontramos o início da nossa história. Muito obrigada por tudo isso!!!!!!!!!!!!!
Beijos,
Ana.

Anônimo disse...

Fatima, amiga virtual
Que homenagem linda você faz a Tia Linda!Reconhecer o que o outro faz prá gente não é para qualqueruma.São pessoas sensíveis que falam com o coração, estas sim,sabem o que falam.Parabéns. É seu estilo,pelo pouco que te conheço. Beijos

Henrique António Pedro disse...

Duas coisas estão bem patentes no poema: o talento e a sensibilidade da sua autora.

Aplausos.

Bj