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domingo, 16 de setembro de 2007

Faride Aboriham

Pediram-me um histórico.
Emocionada o esbocei, mais ou menos assim:
Faride Aboriham, filha de Miguel Aboriham e Saide Izar.
Nasceu na cidade de Espírito santo, hoje Marapoama, na data de 17 de março de 1918. Para ajudar a educar seus sobrinhos, na direção de Oscarlino Ferraz, foi convidada e aceitou o cargo de Servente no Grupo Escolar da cidade, para substituir o Sr. Enderburgo Moreira, um soldado pós - guerra que havia servido na revolução de 1932.
Ela assumiu o cargo em 25 de maio de 1951, substituindo então, o soldado de guerra com muito empenho e dignidade.
Com eficiência, garra, doçura e sabedoria.
A carga horária era feita em duplicidade vezes sem conta, pois sozinha ela assumia toda a limpeza do prédio, atendia aos professores e aos alunos, cuidando também da distribuirão diária do material escolar dos mesmos.
Cuidava de uma horta e da merenda escolar, que era feita por ela, com produtos doados por pais de alunos. Além da sopa, ainda fazia doces caseiros para o lanche vespertino.
Quando vinha alguma autoridade, ela corria para casa e ainda solicitava à suas irmãs Rosa e Anália, um bolo, um doce, um suco ou uma refeição extra.
Certa vez, havendo a escassez desta doação, a merenda foi suspensa, os alunos traziam então, a comida no caldeirão, o lanche deles, da época.
Dona Linda, como carinhosamente sempre foi chamada, esquentava a comida de todos.
Sua dedicação era tamanha, que nos dias chuvosos, ela socorria os que chegavam molhados do sítio, enxugava-os e agasalhava-os conforme ela podia. Muitos deles vestiram, nestas ocasiões, as pobres e simples roupas de seus sobrinhos.
Vários nomes passaram por esta direção. Quando assumiu o Sr. Januário Ferraz, o sarilho do poço quebrou, não tendo verbas para arrumá-lo e não tendo como remover água do mesmo, Dona Linda atravessava a rua e puxava água do poço do quintal do mal humorado vizinho, que reclamava pelo desgaste da corda ou do balde. Não era tão perto, quase o dia todo carregava baldes de água, até encher os reservatórios existentes, o suficiente para a manutenção e higiene do grupo. Precisando assim, ficar além do expediente para a limpeza do mesmo.
Carga horária não existia, era a carga do trabalho, da honradez, do serviço bem feito.
Havia quatro banheiros de fossa, às vezes, usavam de forma indevida, mesmo assim, ela docemente os brilhava com ternura e dedicação, nunca perdendo a dignidade do trabalho que lhe fora imposto.
Seu cunhado Sebastião Gonçalves, dentista da escola, através do amigo e deputado João Salgado Sobrinho, trouxe para o grupo um consultório dentário, a merenda certa e o cinema.
Os filmes eram exibidos na sala de aula e a tela era fixada do lado oposto ao quadro negro. Dona linda, de comum acordo, invertia as carteiras duplas de madeira maciça de forma ordenada, para que toda a pequena vila tivesse acesso à cultura. No dia seguinte, ao amanhecer, a sala estava em ordem, com as carteiras devidamente recolocadas para dar continuidade à alfabetização.
O grupo escolar passou a ter o quarto ano, fato este conseguido pelo seu cunhado Sebastião Gonçalves, pois na época os alunos da cidade não tinham como concluir o ensino primário, só os mais arrojados, os únicos, os Gonçalves saiam para estudar, de maneira sacrificante. Internos!
O nome então, do grupo escolar, passou a ser Professor Bento de Siqueira, em homenagem a um querido professor de Sebastião Gonçalves, que dizia ter sido seu melhor aluno. Nesta ocasião contrataram então, outra servente para ajudá-la. Sua dedicação continuou a mesma.
Aposentou-se em Quatro de março de 1983.
Nunca deixou de ser servil e dócil.
Nunca tocou em um centavo qualquer de seu pequeno e sacrificante ordenado.
Ainda recebe visitas e o carinho de ex - alunos. Alguns deles, já avós, se emocionam ao vê-la.
A homenagem do Município, não foi póstuma, tornou-se realidade, em sua presença, na data solene de 30 de dezembro de 1999, quando a homenagearam como escola:
Escola Municipal de Ensino Fundamental Faride Aboriham.

Simples seres imortais- Sr. Sebastião Gonçalves e Faride Aboriham. Eles trouxeram a cultura e o saber para uma cidade.
Simples gentes, sábios seres. Visionários fantásticos. Lutadores!
À minha mãe Rosa e a minha outra tia-mãe Anália, que também colaboraram como puderam para o progresso desta gente.
Acolhia e hospedava os professores que de longínquos lugares lá aportaram para alfabetizar a pequena vila, hoje Município.
Atualmente as famílias tentam seguir o caminho trilhado pelos Gonçalves.
Como pedem para que eu escreva um histórico assim?
Que me emociona e resgata o que há de mais belo e digno em mim?
Emocionante, esta é a essência mais pura, a herança mais dignificante da minha existência: Tias... Tia Linda!
Simples e digna família.
O agradecimento terno e o orgulho de uma região inteira.
Obrigada por esta herança imensa, tenho um orgulho enorme de ter nascido de vocês. Ternura infinda.
Ser filha de vocês, ser e estar nesta família... meu Deus !
Eu não posso estar triste, nunca!
... E eu não estarei, sou muito feliz!
Terei bisnetos que a abençoará tia Linda, que abençoará a todos vocês, a cada manhã e a cada anoitecer. Obrigada!
Esta herança é nossa!

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bonita e honrada a história da sua tia. Vc tem mais é que ficar orgulhosa mesmo.

Anônimo disse...

Que lindo, tia, parabéns por essa homenagem... ela merece mesmo ser homenageada todos os dias, por tudo o que fez e faz por todos nós !!! Beijos, Ana.